quinta-feira, 22 de julho de 2010

Poetisa particular


Ontem à noite, logo após chegar em casa do trabalho, me deparei com mais uma confirmação de que estou no caminho certo: encontrei poemas de minha mãe, até então desconhecidos e muito bem escondidos no quarto dos meus pais.
Minha mãe é professora de Português e Literatura de Ensino Médio há vários anos. Acredito que minha veia literária origina-se disso. Compartilhamos a avidez pela leitura e a escrita; ela sempre revisou meus textos, sempre me encorajou a escrever. Me indicou livros incríveis, quais autores eu provavelmente gostaria - e nunca se equivocou nesse quesito. Quando foi preciso mostrou-me construções falhas, pontos à melhorar, assim como muito elogiou e se emocionou com minhas palavras. Enfim, realmente devo ter herdado esse interesse dela, que já me confessou sobre suas dúvidas ao sair da Escola, e seu intuito de cursar Jornalismo à alguns anos atrás. Só aí já temos alguns "sinais" de que minha escolha de profissão possui embasamentos genéticos.
Ao ter contato com seus poemas - alguns produzidos durante a faculdade, outros há pouquíssimos anos - fiquei perplexa diante de sua facilidade de expressão e habilidade com as palavras. Eis que me deparo com uma poetisa de muito potencial em minha própria casa. Já virei fã. Avisei-a que guardarei os poemas a sete chaves comigo e que iria, por várias vezes, expô-los aqui no blog, só pelo prazer de mostrar meu orgulho. Posto agora um dos que mais me agradaram.
Apreciem à vontade.

CLARO/ESCURO

Derrama-se o outono
sobre a cidade
e sobre mim,
alaranjando telhados,
verde-amarelescendo tudo que é vivo
numa explosão de luz que me cega
(a mim e a meu coração)
folhas velhas, ferruginosas
caindo, camuflando, cambiantes de vidamorte.
Caem os cabelos, os elos, os sonhos
e as máscaras!
Do azul insuportável das manhãs
resquícios de possibilidades
o pensamento poderia voar...
(talvez pudesse me encantar)
mas esboroa-se, esvai-se
retumbando a cada passo
batendo no encrespado chão marrom.
Doendo.
O arco-íris não deu certo:
anoiteci.

Por Liliane Souza, mãe da pseudo-escritora que vos fala

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