Há algum tempo, me perdi.
Achei que estava na direção certa – a mais certa possível, diga-se de passagem –,
mas me enganei. Segui por rumos que eu desconhecia, nunca antes desbravados, e pensei que tiraria de letra.
Durante a caminhada vieram os
percalços. “Coisa comum, rotineira. É só vencê-los que tudo volta ao normal”,
deduzi. Mal sabia eu que, futuramente, viria a descobrir que aquelas pedras no
caminho tinham um motivo: proporcionar a evolução através do sofrimento. Todo
sofrimento, entretanto, tem um fim. E o meu estava longe de acabar.
Segui pelo rumo que meu coração
indicava. Não tinha certeza de absolutamente nada. No fundo, algo me dizia que
certas coisas estavam fora de ordem, mas nunca me preocupei. É normal sentir-se
inseguro diante de territórios inexplorados. De repente, o inesperado. Alcancei
as profundezas do desconhecido. Cheguei ao ponto máximo do desespero. Me vi em
meio a um emaranhado de emoções, sensações, pensamentos e situações que me
expuseram de uma forma grotesca. Ainda assim, me convenci de que estava fazendo
o certo. De que toda a fantasia criada por meus melindrosos neurônios seria
eterna. Meu coração não permitia espaços para sentimentos efêmeros.
Quando me dei conta, o abismo me
esperava. Lá eu estava, na beirada, pronta para lançar mão de toda uma vida e
abraçar outra. Esqueci gostos, esqueci pessoas, esqueci vontades, esqueci o
passado, esqueci a felicidade, esqueci de mim. Principalmente de mim. Reencontrar-se,
porém, não é tão fácil quanto parece. O próximo passo era pular na escuridão.
Escuridão essa que, apesar de todos os indícios óbvios, eu não enxergava. À minha
frente, só via luz. Muito tempo depois, já curada, fui descobrir que esta luz
era falsa. Ao estilo “fruto proibido”, surgiu fingindo ser uma salvação.
Depois, revelou ser um castigo.
Faltava apenas um passo para me
entregar ao declínio quando tudo mudou. Há quem diga que o responsável por tudo
foi o destino. Hoje acredito que possa ter sido. O mundo, este que tanto sonhei em conhecer, me separou daquele caminho que batalhei para continuar
seguindo. E foi aí que tudo mudou, transformou, evoluiu. Na separação, a
descoberta: tudo que havia vivido até então fora mascarado. Um novo
futuro, repleto de realizações, estava por vir.
A primeira sensação foi de
liberdade. Aos poucos, me senti livre para encontrar minha essência mais uma
vez. Estávamos tão, mas tão distantes, que demorei a alcançá-la. Entretanto,
quando a reencontrei, me senti plena.
Plena. Total e completamente
plena.
Foram necessários certos dias de
retiro mental para me recuperar. Quando me encontrei, porém, não quis mais me
separar de mim. E não vou. Não permitirei que nada, nem ninguém me tire do
paraíso. Assim sou, sempre serei, e gosto disso.
Sobre arrependimentos, digo que
não os tenho. Os caminhos os quais percorri, por mais tortos que tenham sido,
serviram para me fortalecer. Fazem parte da minha personalidade. E recomendo:
vale a pena se arriscar e entrar de cabeça no desconhecido. De início, a
incerteza pode amedrontar, mas garanto que os resultados irão compensar.
Experiência própria.
Vá, e não tema.